Hoje vamos falar e recordar uma tradição que, creio não exagerar, nestes moldes não existe em outro lugar. Pelo menos nunca ouvimos referir tal e, a quem temos falado sobre isto, mostram espanto.
A tradição que vamos recordar e divulgar assente num ritual que tem por base a seguinte oração:
“ Tem-te minha alma
Tão dura a tão forte
Olha o que hás-de passar
Na hora da tua morte.
Viva és, morta serás
E ao campo de “Justafá” irás
E com o diabo te encontrarás
Ele te dirá: - Anda cá ó alma minha.
Esta alma não é tua,
Nem quinhão nela terás.
Foi numa Quinta-feira santa
Ao pé de uma santa cruz
Mil vezes disse:
-Jesus me valha, valha-me Jesus….”
Este ritual cumpre-se na Quinta-feira santa, de tarde na igreja da freguesia. As mulheres, geralmente só vão as mulheres e a “canalha” gente miúda, aparecem a uma hora marcada, pois neste dia o sino não pode tocar (só o do relógio). Entram na igreja e há uma delas que lidera o acto. Posicionam-se defronte do altar-mor e ajoelham-se.
Depois vai-se desenrolando o terço, a cada dez vezes repetidas “Jesus me valha, valha-me Jesus” declama-se a estrofe/oração “-Tem-te minha alma. Tão dura a tão forte. - Olha o que hás-de passar. - Na hora da tua morte….” E repete-se novamente “Jesus me valha, valha-me Jesus” dez vezes e assim sucessivamente até perfazer as mil vezes.
Para quem não conhece esta tradição estará a interrogar-se, como raio sabiam as pessoas quando estavam recitadas as mil vezes? Pois é, havia e há uma maneira que funciona desde sempre. No início a “líder” pedia a um “canalho” gente miúda, para irem apanhar 20 seixinhos ou pequenas pedras. Estas eram disposta no chão do lado esquerdo da pessoa que lidera a oração, e a cada terço passado passava-se uma pedrinha para o lado direito, quando do lado esquerdo acabassem as pedrinhas estavam a mil vezes cumpridas. 20 vezes 50 igual a mil. Simples não.
At Ento
9 comentários:
Rituais como este são o cimento das comunidades mais pequenas.Quando desaparecem, desaparece também a Identidade comunitária. Um bem haja ao Atento por nos continuar a surpreender,
Lektor
Será que as "identidades comunitárias" desaparecem ou simplesmente se transformam?
Um excelente fim-de-semana!
João
As "culturas" são dinâmicas, misturas de influências que se perdem no tempo. O pior, (ou melhor...) é quando a massificação nos faz esquecer as tais pequenas coisas que são só nossas.
Um bom fim-de-semana,
Olà Lektor.
"...cimento das comunidades mais pequenas..." bonita expressão para caracterizar o que nos mantém unidos e nós leva a dizer: -eu pertenço aqui!
Para que não se esqueça, vamos falando e divulgando.
Saudações com amizade.
At Ento
Olá Caro JF.
Evoluem e adatapam-se enquanto houver "carolas" que se lembrem de que era assim, creio eu.
O progresso das grandes superficies e as suas promessas também chegam perto das pequenas comunidade do interior. As rotinas e alteram-se e passam a estar pendentes de outros estimulos. O passeio de carro ao fim de semana entre uma telenovela, e depois ao centro comercial, é bom para o "estatuto social moderno"!!!
Nós por cá tentamos contribuir para que se mantenham as memórias e a discussão, a luz virá ou não.
saudações com amizade.
At Ento
Olá caro Anónimo.
É como dizes, " As Culturas são dinâmicas..." enquanto houver motor de dinamismo e isso depende das pessoas, por isso temos de passar o testemunho aos mais novos e reavivar o intersse dos outros, mesmo com algumas misturas mais actualizadas, para que a comunidade que as vive sinta que também contribuiu e deixou a sua marca.
Bom fim de semana, com sol.
At Ento
Olá querido amigo Atento,
por falar em tradições especiais, aqui na minha aldeia também temos uma tradição bastante original e que consiste na recriação viva do episódio do calvário! As pessoas da terra ali ficam estáticas parecendo figuras de cera...e assim permanecem horas a fio!
É digno de assistir...
Saudações com amizade
E-Bunny
Olá cara amiga E-Bunny.
É ter paciência de santo, mas quando toca a tradição ainda há quem as mantenha e é bom pois já não só pela fé, mas para sentirmos como os avós e os pais viveram as épocas dos seus anos de oiro, de trabalho e de sentimentos e de muita entrega.
Este ano, quando acontecer, não esqueças a máquina fotográfia, regista e mostra aos amigos do cantinho.
Saudações com amizade.
At Ento
Bons tempos da Páscoa em Parambos em que em criança andavamos atrás do padre na visita pascoal para no final recebermos uma laranja e por vezes uns 5$00 ou 2$50 eram tempos de amizade e de espirito de união os voluntarios que andavam na visita quando se entrava em casa dos nossos conterraneos e amigos havia sempre uma mesa posta com umas bolachitas e uns minutitos para dar duas palavras aos da casa nada como agora que é um entra e sai tudo a correr que é para despachar a ultima casa da visita era sempre a do Senhor João Batista no S. Pedro ali nos sentavamos à mesa e ali se fazia uma merenda reforçada porque a hora do jantar (almoço) passou-se na visita. Lembro aqui o Senhor Padre Roseira que quase sempre ficava à porta dvido à sua altura é que as portas eram baixas demais para ele e ele não estava para se baixar. Era um dia de festa em Parambos.
Uma Feliz Páscoa para todos os Paramboenses residentes e não residentes.
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